terça-feira, 27 de março de 2012


No descampado negro há manchas de sangue, há restos de
homens e de cavalos, há motores partidos, há metais
quebrados, e a sombra de Cristo a pairar, a pairar.

Que é dos belos moços que os velhos ricaços roubaram às mães?
Que é dos belos sonhos que os ricaços velhos roubaram aos moços?
Que é das flores silvestres que a terra não dá, ó descampado negro manchado de sangue?
Que é das flores silvestres, que é das flores silvestres, homenzinho gordo, baixo e de charuto?
Que é das flores silvestres, que é das flores silvestres, franjado tirano do bigode minúsculo?
Que é das flores silvestres, ó farto industrial de mil histórias, ó sólido capitalista, ó proprietário de mil propriedades, ó traidores ricos, ó traidores pobres, que é das flores silvestres, ó pobre gente, que é das flores silvestres?

No descampado negro uma papoila insiste
E a sombra de Cristo paira sobre ela.

Maria Almira Medina
in “Madrugada”
Lido por Lourdes dos Anjos

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