terça-feira, 27 de março de 2012

O BÉBÉ PERDIDO

O BÉBÉ PERDIDO

O desfolhar dos dias na roda do calendário
dizem que o tempo passa
mas ele fica no choro do desespero
nos buracos do telhado nas telhas que se desgastam

e a criança abandonada no chão
ou esquecida na esquina
não sabe que mais chorar
no terror de estar sozinha

aceita quem lhe dê colo
e lhe fale ternamente
e a leve para uma casa aquecida
onde haja televisão
e crianças a brincar

Já se calou sua fome
já se apagou sua sede
agora bebe o seu leite
só lhe falta a voz da mãe

o apagão da cidade serviu-lhe para dormir
o silêncio das prisões facultou-lhe a inocência
e o berço onde a embalam é leve e aconchegado
mas o mundo de lá de fora continua a desfazer-se
no desespero dos vivos que cegam e ensurdecem
conforme as guerras avançam e os soldados fogem
pelas fronteiras de aço dos seus países sangrados
na crise e na podridão…


Fernando Morais

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