sábado, 30 de outubro de 2010

APESAR DO SOL CAÍA FRIO

Novais
APESAR DO SOL CAÍA FRIO

Está a chegar o tempo em que
Te preparavas para ir embora!
Faz agora um ano!
Era Dezembro e havia sol, mas,
Avançando a passos largos, o Inverno
Ia caindo sobre as árvores.

O Natal aconteceu,
Ainda,
E entre nós houve presentes. Todavia,
Ao entregá-los,
As tuas mãos tremelicavam e
Os teus dedos eram frios!

Aquilo que me ofereceste tinha um travo de acidez e
Um odor a despedida!

Piscavam velas no pinheiro,
Mas os teus olhos,
Então baços,
Tinham perdido a luz
E não se reflectiam nas bolas de cor que
Supostamente o enfeitavam.

Pressentia-se que ias partir.
Não tinhas as malas feitas, mas já estavas de saídas!
O que de ti ali restava era
A saturação e o cansaço,
Uma certa agitação,
E uma dose de embaraço!

Estavas ainda lá, mas bocejavas, e
Ansiavas uma lufada de vento
Em que pudesses cavalgar e fugir.
Sair dali,
Partires para longe!

De olhar ausente, exalavas tédio e
O teu sorriso era um esgar,
Pálido esgar,
Um simulacro,
Enjoado e doentio simulacro!

Apesar do sol, era Inverno e estava frio
E tu sonhavas com outro tempo,
Outras paragens,
Novos ares,
Novas marés.

Andava no ar um adeus,
Despedias-te. De mim e
Do Inverno.
Aguardavas o cantar de outras aves,
O florir de primaveras
Que te acenassem promessas
Capazes de te embalar,
Narcotizar e enlouquecer,
De te empurrar
E devolver
Ao teu errante destino!

Miguel Leitão
in Em nome das palavras

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