sábado, 30 de outubro de 2010

SUFOCO

Victor Silva Barros
SUFOCO

Sinto o coração a sufocar no peito,
Dolorido,
Congestionado,
A estoirar
Com a pressão de afectos
Que se avolumam
E atropelam,
Sem enxergarem a porta de saída.

Aí se amontoam
E permanecem como forças vivas,
Pungentes,
Revoltadas
Que nem condenados
Injustamente encarcerados
Entre grades de prisão.

Sinto o pensamento a emurchecer no cérebro,
Paralisado,
inútil,
incapaz de achar os sons,
as palavras,
os movimentos,
os simples gestos
adequados à saída dos afectos,
à sua expansão na claridade.

Aí lhes seria dado arejar,
Ver o dia,
Respirar a luz da vida e do sol
A que têm direito.

Sinto os olhos negros de cegueira,
Movendo-se,
Em vão,
Numa paisagem opaca.

Olhos negros de cegueira,
Não descortinando ninguém
Cuja presença
E cujo olhar
Desencadeiem o que se vai acumulando em mim.

Ninguém a rasgar uma janela
Que me oxigene por dentro,
A fim de que saia a angústia
E entre a esperança.

É o eterno sufoco:

Como quem tem um espinho atravancado na alma!

Miguel Leitão
in Em nome das palavras

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