Alberto d' Assumpção
Constrói-se o poema
ao jeito de quem faz uma estátua.
É necessário uma ideia forjada no coração,
para que o impulso da emoção
ilumine, incendeie,
entusiasme,
dê cor e forma àquilo que se quer fazer.
Decide-se então o material
em que a ideia há-de encarnar
e ganhar corpo:
o barro, o granito, o bronze…
ou as palavras.
Palavras…
… nunca ao acaso,
mas seleccionadas
entre os inúmeros milhares
da reserva vocabular da língua.
… eficientes,
prestando-se a traduzir
aquilo que vai cá dentro,
e se quer compartilhar.
… e têm de se harmonizar,
de se afeiçoar umas às outras,
encaixar-se,
equilibrar-se,
evitando aliterações,
hiatos,
repetições,
cacofonias desajeitadas.
Fazer poemas
é pôr em pé estátuas de liberdade e de palavras,
em que as correcções
e os amiudados retoques
dão a sensação de um eterno recomeço.
E o poeta não desiste. E persiste.
E não se cansa,
nem descansa
enquanto não der fé no poema
daquela musicalidade a romper
e que há-de aconchegar os ouvidos
como água de um ribeiro,
o cantar do rouxinol
ou o riso da criança!
Miguel Leitão
Sem comentários:
Enviar um comentário