Sara Garrote (Chuca)
Outras ViolênciasOlha-me nos olhos, em silêncio, com calma
Abre, para mim, a janela da tua alma.
Agora diz-me, mãe: achas que eu mereço
Sempre que te convém, ser arma de arremesso?
Por quê? Porque me fazes sofrer?
Porque te vingas e me proíbes de o ver?
Que fiz mãe, diz-me o que fiz
Para não me deixares ser feliz?
Será que ainda não conseguiste entender
Que sou gente e não um objecto qualquer?!
Pára. Não me tentes manipular
Dá-me espaço e tempo para pensar
Se o vosso amor, precocemente, acabou
Se, de repente, o nosso lar se desintegrou
Eu quero continuar a ter Pai e Mãe
Amo um e amo o outro também.
Quero sentir-vos, os dois, a meu lado
Mesmo sabendo que sois um casal separado
Tenho direito a ser feliz, a ser criança
Não admito servir como reles vingança
E não me ameaces nunca, nunca mais
Com polícias, juízes e tribunais
Porque apenas sei que ninguém quis saber
Que a vossa liberdade se fez à custa do meu sofrer
Também não voltes a perguntar qual dos dois eu amo mais
E, por favor, poupem-me da guerra das visitas quinzenais
E até aquela conversa: ele que pague porque tem obrigação
Faz-me pensar que apenas ou um Imposto de Circulação.
Estou cansado de tanto egoísmo, tanta cegueira
Só peço que me amem, cada um à sua maneira.
Tu, mãe, a quem confiaram o poder paternal
Não faças da minha vida, um tempo quase infernal.
E tu, pai, não te esqueças das vezes que adormeci
Chorando a saudade imensa, de estar longe de ti
Se vocês fizessem ideia do peso do meu sofrer
Percebiam porque desejo, para vos magoar, morrer!
Os filhos não guardam sempre este verbo infantil
Crescem e de repente são bandos de delinquência juvenil
E porque não têm raízes nem laços de união
São a revolta que vagueia nas celas de uma prisão
É urgente soletrar, devagar, algumas palavras
Família, tolerância, sacrifício, humildade
Pai, Mãe, amor, futuro, felicidade
É urgente repensar, diferentes formas de amar.
Maria Lourdes dos Anjos
in Poetas de Sempre
(Antologia)
Sem comentários:
Enviar um comentário