Carlos Godinho
O MEU POEMAOs poetas
São os patetas,
Uns mentirosos.
Fazem poemas!
Dizem-se tristes,
Sempre chorosos,
Os mentirosos
Dos poetas,
Esses patetas.
Cantam amores,
Mas não sentem
E mentem:
Choram escrevendo,
Riem vivendo,
Os mentirosos
Dos poetas!
Que patetas!
Já fui poeta.
Será que menti?
Cantei flores,
Julguei chorar,
Julguei sofrer,
Julguei amar,
Julguei viver…
Fui um pateta
E não vivi!
Agora não sou poeta.
Já não sei rimar,
Mas tenho um lema
E um poema
Para ti.
Esse poema
Não o escrevi.
Não é feito de palavras!
Não se lê
Nem se escreve
Nem se canta
O meu poema!
Não é p’ra pôr num jornal
Nem é verso de jogral
Nem de segrel
O meu poema!
O meu poema
Á fogo ardente,
É água a correr da nascente.
O meu poema
É grito abafado no peito,
É remexer-se no leito
Em noites de solidão.
O meu poema é vida ,
É guarida
De anseios meus.
O meu poema é calor,
É alimento,
É luz,
É sofrimento,
É fome,
É movimento,
É sede deveras sentida.
O meu poema é magia,
É alegria,
É poesia…
O meu poema…é amor!
Miguel Leitão
in Em nome das palavras
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