Victor Silva Barros
Letra a letra a casar sílabas
Se vão construindo as palavras
- a outra face do espelho
Do nosso mundo mental.
Palavras que ancoram coisas,
Arrastando-as até nós: paisagens,
Homens e bichos;
Casas, cidades, nações,
Montanhas, nuvens e mares,
Alegrias e pesares;
Projectos e aspirações…
Tudo fica à nossa frente
Por milagre das palavras!
Enfileiradas,
Em linha,
Vão-se transformando em frases:
Desejos, ordens, perguntas,
Negações e
Afirmações portadoras da verdade
Por que alguns homens se batem.
Frases que fazem sentido e que
Podem ferir como espinhos
Ou facas em nosso peito!
Ás vezes sabem-nos bem,
Como veludo macio a roçar em nossa pele,
Ou como iguarias de mel
A adoçar-nos a vida!
Juntando-se umas às outras,
Aves de Outono em bandos,
Vão cumprindo o seu destino.
Elevam-se, pairam, volteiam, mas
Fiéis à sua rota,
Acabam por desaguar
Em textos que falam do mundo
Lá de fora e cá de dentro.
(Qual deles mais importante?
Qual deles será mais real?)
Afinal
Todo o discurso:
Vidas descritas, narradas,
Cochichos de amor e canções;
Negociações conversadas,
Louvores e representações;
Sermões pregados no púlpito,
Simples notas de encomenda ou
Cartas comerciais;
Escrituras de notário,
Notícias, revistas, jornais,
Apontamentos diários,
Conferências, actas, lições,
Ciência deixada aos vindouros
Ou saber proverbial;
Poemas saídos do peito
Romances, dramas, comédias…
Tudo tem na sua base
Pequenos trejeitos de boca,
Ligeiros gestos de dedos!
Ar e tinta…
… nada mais!
Miguel Leitão
in Em nome das palavras
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