José González Collado
VEM PARA A RUAMeu Amor,
Vem para a rua, que
É Primavera e é feriado.
A vida também é tua;
Fechares-te em casa é pecado!
Amor,
Vem para a rua, que
Está bom tempo e
O dia é lindo.
O Inverno é findo e
O casulo que te encerra já
Não é para agasalhar.
Não sentes nas tuas veias
Lufadas de sangue a saltar?
Não ouves dentro de ti
Um impulso natural,
Uma força poderosa
A impelir-te para o sol?
Amor,
Vem ver o
Esvoaçar das pombas no
Azul perfumado de esperança!
Sai da sombra que te envolve e te
Seca as emoções.
Derruba o muro que te cerca e
Entristece e
Embota as ilusões.
Abre os portões do castelo e
Vem espraiar-te cá fora,
Experimentar sensações.
Sorri ao mundo e à vida e
Deixa entrar ar nos pulmões.
Vem dilatar os teus olhos na
Conquista de horizontes, na
Contemplação dos astros, dos
Pássaros e das flores que,
Trepando pelos montes,
Os pintalgam de mil cores.
Vem tomar banho aos regatos,
Partir com rumo às nascentes,
Saciar nelas a sede
E gravar nos teus ouvidos
O canto das águas correntes.
Anda, salta, voa, corre,
Cansa os pés em caminhadas,
Descobre a frescura das ervas que
Ladeiam as estradas.
Tira os sapatos dos pés,
Pisa as pedras da calçada que
O jornaleiro percorre na
Eterna luta que trava.
Segura na terra com a mão e
Aprecia-lhe o odor.
Não lhe notas ainda o cheiro
Daqueles que para terem pão
A regam com seu suor?
Vem provar o mel silvestre,
Morder cerejas temporãs,
Sujar a cara de amoras e dos bagos das romãs.
Põe-te a pé muito cedinho e
Inspira, de madrugada,
O doce aroma dos fetos, do
Rosmaninho, do
Sargaço, da
Alfazema e do alecrim.
Vem, enfim,
Descobrir como é bom
Escutar canções de amor,
Tranquilizar minhas mãos
Frementes de tanto ardor.
Não hesites, vem depressa
Satisfazer teus desejos:
Saber a que sabem meus lábios,
Saber a que sabem meus beijos!
Miguel Leitão
in Em nome das palavras
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