Carlos Godinho
Fervilhava em ondas o teu sangue e
Velas enfunadas te percorriam as veias,
Empolgando-te os gestos e as palavras.
Dos teus olhos saltavam chispas de fogo:
Estrelas a aquecer-me a alma e a
Iluminar clareiras que eu,
Dócil, percorria,
Em cata das bandeira com que
À distância me acenavas!
Tudo isto era verdade quando existir
Era uma festa e tomavas parte nela!
Era o tempo do amor!
Era no tempo em que o chão se vestia
De malmequeres e de junquilhos
E em que catadupas de girassóis e de
Mimosas se desdobravam em
Labaredas doiradas
Que engalanavam a vida,
Procurando alindá-la como a uma virgem,
Tímida,
Em vésperas de noivado!
Era no tempo em que a tua voz era
Uma lira dedilhada pelo vento, e em que
As palavras deslizavam com
A pujança de um ribeiro de
Desejo e de loucura!
Era no tempo em que os nossos gestos
Estavam certos e
Desenhavam voluptuosas promessas,
Configuradoras de sonho e de futuro!
O teu corpo era um vulcão, as
Tuas mãos e o teu peito, então, queimavam!
Mas o que era fogo extinguiu-se e
A torrente do teu rio paralisou.
Estrangulada,
Calou-se a música da tua voz, agora
Reduzida a sons inócuos,
Destituídos de sentido.
Eu não queria que as coisas
Se tivessem passado assim,
Como se ao amor fosse sol de trovoada
A ocultar-se atrás das nuvens!
Miguel Leitão
in Em nome das palavras
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