sábado, 30 de outubro de 2010

FALAR DE TI

Nunes Amaral
FALAR DE TI

Como hei-de falar de ti,
Do teu olhar de veludo
E, sobretudo,
Das tuas mãos de cetim
Que ao passearam-se em mim
Pegam rastilho ao meu corpo?

Bruxuleante candeia
Que num mínimo instante
Se alumia,
E se incendeia
E se consome
Em labaredas de paixão,
Para de novo renascer!

Como é que eu hei-de fazer
P’ra poder falar de ti,
Do teu jeito aconchegante,
Do embalo dos teus braços:
Fofo ninho aliciante
Feito pelo seu cingir?

Afagos,
Carícias, abraços,
Trama urdida em doces laços
Que não quero destruir!

Como poderei falar de ti,
Do teu encanto ao sorrir,
Da tua gulosa,
Sequiosa,
Bebendo com sofreguidão?

Lábios rubros de coral,
Dentes brancos de marfim
E os teus beijos!

Oh! Doces beijos de ambrósia,
Néctar divino,
Magia
Que me apraz saborear!
Pródigos,
Quentes,
Molhados,
Dentro da alma forjados
E vindos à luz
Numa boca…
Na tua boca febril,
A escaldar!

Miguel Leitão
in Em nome das palavras

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