Alberto Ulloa
Era uma vez um país
embolado a navegar
no alto do seu nariz,
e à beira de naufragar.
Um país de tiranetes,
de santarrões no altar,
de barões, de baronetes,
de validos, de valetes
por aí a desfilar;
um país de figurões
carregados de negaças,
onde os galos e os capões,
a mando dos passarões,
arreganham ameaças;
um país de sectários,
de falsários, de falsetes,
de caciques, de sicários,
cães de fila, mercenários
e de espirra-canivetes;
um país de saltimbancos,
de palhaços, bailarinos,
de tartufos, e de tantos
morcegos e olhimancos
à caça de gambozinos;
um país de gente fina,
gente de fé, impoluta
que tresanda e peregrina
entre a vénia e a verrina
com a língua mais hirsuta.
E o país de virotes,
fura-vidas, fura-bolos,
de fariseus, de zelotes,
de volteios e pinotes
e chuva de molha tolos,
bruscamente acometido
pela febre e pela aragem,
perde o pé e o sentido:
entrega o oiro ao bandido:
e é fartar, vilanagem!
Um fartão de pesporrências,
destemperos, desconchavos,
de mordaças, de impudências,
e de pardas eminências
de um bando de patos-bravos.
Neste país de opereta,
o regente, sem batuta,
segue a toque da trombeta,
dos fagotes, da veneta
de grandes filhos… / da pauta.
Era uma vez um país
levantado à beira-mar
a sacudir a cerviz
e com pernas para andar.
Domingos da Mota
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