quarta-feira, 20 de junho de 2012

AI QUE PIEGAS QUE ELE É…

AI QUE PIEGAS QUE ELE É…
A António Lobo Antunes

vera…
oh, vera.
ai que estou tão mal!
tou cheinho de dores nas costas
e nos abdominais.
ai vera, vera,
arranja-se um pouquinho de chá.
ai verinha meu amor,
que tou tão mal,
já não aguento mais!

raios vera…
carago! vai comprar-me
o tabaco e o jornal!
tu nunca te lembras de mim.

ai mulher, mulher,
ai que vou morrer,
estou mesmo no fim.

ai vera,
verinha.
ai que tou tão mal!
liga, liga ao notário
e também ao cangalheiro.

vera… oh, vera.
chissa mulher,
anda lá, rápido,
muda já de canal!
naaãooo!!!
gaita, não é esse!
põe no primeiro!

ai vera… verinha,
dói-me tudo!
dói-me o corpo inteiro.
ai, esta tosse
que me queima os pulmões.
ai que vou morrer!

oh vera, está na hora!
põe na 4,
olha o “euromilhões”.
que raio de mulher,
não me ligas bóia,
tu só me fazes sofrer!

ai vera,
verinha, meu amor!
dá-me lá o chá
e as pastilhas também.

ai…, ai…, dói-me tudo,
dói-me tudinho!...
olha o que te digo,
tu presta atenção,
as dores vão-me das costas
ao umbigo
e até me tiram…
até me tiram a…
… concentração!

ai vera,
verinha,
faz-me miminhos
e cafunes.
põe… põe…
põe-me a botija
a aquecer-me os pés.

ai, deus me valha!
oh, vera, és uma ingrata!
só pensas em fazer malha
e dar miminhos à gata.

ai vera, vera,
não sejas má.
tu tratas-me como um morcão!...
olha, já que não me dás o chá,
eu vou-me embora,
ver o porto a jogar no “dragão”!... 

Eduardo Roseira
12 Maio 09

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