quarta-feira, 20 de junho de 2012

MERIDIONAL

MERIDIONAL
CABELOS

Ó vagas de cabelos esparsas longamente,
Que sois o vasto espelho onde eu me vou mirar,
E tendes o cristal dum lago refulgente
E a rude escuridão dum largo e negro mar;

Cabelos torrenciais daquela que m’enleva,
deixai-me mergulhar as mãos e os braços nus
No báratro febril da vossa grande treva,
Que tem cintilação e meigos céus de luz.

Deixai-me navegar, morosamente, a remos,
Quando ele estiver brando e livre de tufões,
E, ao plácido luar, ó vagas, marulhemos
E enchamos de harmonia as amplas solidões. 

in “O livro de Cesário Verde”
lido por Amândio Vasconcelos

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