terça-feira, 5 de junho de 2012

MADRUGADA EM MAR IMENSO

MADRUGADA EM MAR IMENSO

meu amor… sonhei.. sonhei…
meu amor. sonhei ser poema sem métrica
mulher menina na muralha da minha existência
manhã após a madrugada em mar imenso
de vagas tristes e sonhos vagos…
ser o momento escrito no mistério do poema…
mágico moinho do pensamento moendo mansinho
todas as malhas do mal que impera no mundo…
ser tarde melancólica a meditar no mapa da vida…
murmúrio miúdo no movimento de minhas mãos…
milagre do poema transversal que modela
as montanhas do amor… metamorfose
assumida na transmutação do entardecer…
ser noite de lua nova no mês de Maio…
sem matéria alcanço o maravilhoso império
da divindade materna… sou ser
podendo ser um milhão de vezes mãe
mais do que sou em mim…
ser mito de multidões à margem do racional…
canto do pranto de maré em maré…
flor de um beijo furtado ao sol na música
do poema maior… melodia do verso dançando
com as palavras guardadas na memória…
marco místico de um espaço vazio…
alma sem máscara na curva do céu…
ser a maçã que Adão não trincou…
amora… cereja… framboesa e romã…
macedónia de frutos doces,
o sol e os pássaros beijam e não ousam morder…
migratória ave em eterna primavera…
fénix em vastos voos renascida das cinzas
contra o muro da morte. mas, meu amor,
sonhei muito mais, sonhei ser poema criança
sem malícia… mitigada mensageira
em múltiplas vidas… macia pétala de margarida
sorrindo da condição humana…
ser mendiga muda a comover o verso
minuto a  minuto… membrana transparente
onde se advinha a cor da palavra…
miragem mirabolante medida no desejo
do poema maior.
meu amor… sonhei… sonhei… 

Teresa Gonçalves

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