A GRIPE DE UMA MULHER, À BOA
MANEIRA PORTUGUESA
dedicado a: António Lobo Antunes, e ao meu irmão Eduardo
Roseira
- Estou com gripe,
sinto-me mal,
dói-me a cabeça,
parece que estala…
- O quê? Ponho uma tala?
- Não, não é isso, homem!
Parece que estala, de tanto doer…
(Oh! Este homem com quem casei, só
me faz sofrer…!)
- Estou cheia de febre,
tenho a cabeça a rebentar.
Dói-me tudinho,
desde os cabelos até os pés!
- Não fazes nada!?
Sou sempre eu…!!
- Pronto, não te incomodes,
eu saio da cama, e faço os cafés.
(Irra, que é demais…! Já uma mulher
não pode estar doente!)
- O quê? Estás carente?
Queres um miminho?
(Quem te desse, era com um
casqueiro duro nesse focinho…!)
- Não, não disse nada…!
Não te aborreças.
Eu vou à rua,
compro pão fresco,
trago o tabaco e o jornal.
E de caminho, passo pelo talho,
compro galinha,
e mais logo faço uma canjinha.
(Imprestável!! Egoísta…!)
- Ah, preferes uma cerveja e um
petisco – umas moelas!
(Morcão! Dava-te era um purgante
pelas goelas…!)
- Queres a camisa azul,
Vais ver a bola?
Deixa, está já lavada.
Eu passo-a a ferro…
(quem te acertasse na mona…, com a…
com a… com o raio da bola!)
- Queres descansar?
Podes fazê-lo!
Eu faço a cama,
calo os miúdos,
faço o almoço,
e passo a ferro.
- E tu descansas…!
Quando acordares,
vens almoçar.
(Rais parta, este morcão não faz
bóia!)
- Estás-me a dizer que logo à
noite,
vais c’os amigos p’rá ramboia
jogar dominó.
- Vai, vai descansado,
Porque para mim…
é bem melhor eu ficar só!
- O quê?
Queres saber se estou melhor?
Como é que estou da gripe?
Olha…! Pu-la… na prateleira!
(Para não te pôr a ti…!)
Sou uma mulher de Fé!
E, como as árvores,
ou curo a gripe,
ou morro de pé!
- Quanto à gripe…,
mandei-a…,
Mandei-a… pró caraças!!! – curei-a
com a tua água-pé!!!
Ana
Maria Roseira
9 de
Junho de 2012
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