desistir apetece-me
desistir.
fugir.
e sair correndo, esmagando prados azuis
e ervas distantes. silenciosas como a dor
para que a dor não se ouça. mesmo que se veja
a besta,
as garras do destino supostamente escondido.
sigo o prado ferido
com um olhar de desprezo que desprezo
e esqueço que te lembro: da morte
e do leito
resiste um cérebro desfeito; desta morte,
que espaço reservar no meu peito?
que estalido, que membro (não me lembro)
avançou primeiro? que pedaço de carinho
ousou (também não me lembro) sair ao caminho?
que montes te viram sorrir o último, supremo sorriso?
que olhar cravaste na mais próxima árvore? para mim…
desistir, apetece-me, e desistir sempre.
e voltar a desistir, depois.
até que a desistência seja um regresso
e voltes a gritar: - ei! estou aqui!
grita uma guitarra que conheço de lado algum,
não se ouve um choro que conheço de toda a parte.
não queria ser eu a dizer: - lamento.
preferia dizer: desisto. também.
o meu Pessoa, o meu querido Pessoa disse-me:
- se te queres matar, porque não te queres matar?!...
foda-se! Fernando, o meu melhor amigo suicidou-se!
que lhe digo? que foi mais corajoso que tu, que eu, que nós?!
anda daí, Fernando,
eu estou no bar.
ali.
longe.
os outros,
os outros que me desculpem.
ou outra coisa qualquer parecida com isso.
Luís Nogueira
lido por Eduardo Roseira
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