A PEUGADA
Há um duende atrevido
que está sempre à minha beira;
que me desvia o sentido
e me dá muita canseira!...
Às vezes tento iludi-lo
e fujo-lhe ressentida,
mas logo estou a senti-lo
ao canto da minha vida.
Tem às vezes bom pendor,
dar-me presentes fagueiros,
cestinhos cheios de amor
que não troco por dinheiros!
E outras vezes, só por mal,
(porque ninguém é perfeito)
dá-me angústia mortal
que se aloja no meu peito.
E sinto uma tal revolta
pelo assédio doentio…
saber que dou meia volta,
esteja calor ou frio,
lá vem na minha peugada;
imploro-lhe: - deixa-me, sai,
que me sinto vigiada!... –
mas por mais que peça não vai!
Que queres de mim? Quem és tu?
E porque não vais embora?
Já me sinto toda a nu,
perseguida a toda a hora…
Como hei-de libertar-me
desta pertinaz loucura?
Queda-se desafiar-me
e murmura com doçura…
Olha, eu não te posso deixar,
que tu fazes parte de mim…
e terás que me aceitar
até que seja o teu fim!
Aprende a querer-me bem;
acata o que te ensino.
sem revolta e sem desdém,
porque eu sou o teu destino!
Maria de Lourdes Moreira Martins
in "Castelo de Legos"
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