VARANDA DO SOL
As casas aqui defronte barram as árvores,
a avenida,
as areias e o mar.
Mas não cresceram o bastante para
bloquearem o sol
e impedirem-me
- estirado na varanda –
de gozar esta réstia dourada
que se acerca
e se apodera do meu corpo
e o mordisca
em jeitos de suave carícia.
É um sol brando,
humedecido,
teimando em colar-se à pele:
um sol líquido,
escorrido
e pegajoso.
É como se, por não vir,
o mar o solicitasse,
fizesse dele estafeta
e por ele mandasse
o seu rugido,
o seu apelo
e o seu feitiço
disfarçados de poema.
Poema vivo, ondulante,
prateado,
meado de algas e de espuma,
sabendo a sal e a maresia
e que aqui quero deixar.
Sôfrego, bebo este sol,
abrem-se-me todos os poros para
o sorver às golfadas
e sou invadido pela música,
pelo baile das gaivotas,
pelo estonteante enlevo das águas,
pelo volteio das conchas…
pelo longe…
pela aventura…
e pelo sonho que se me acende na alma
e me espicaça o desejo de ter aqui por perto.
Miguel Leitão
in "O tempo e as coisas"
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