IMAGINAÇÃO
O tema da poesia está aí!
O mundo,
a terra,
e as coisas belas que encerra:
o fulgor da aurora,
a luz do dia,
a paisagem e as situações,
os acontecimentos,
a humanidade e as afeições;
o luar, as flores,
as crianças
e a ternura,
a mocidade e seus amores,
suas esperanças;
a força da vida,
a natureza
e o mais por que perpasse
um ténue fio de beleza.
Também está aí
o meio de a escrever!
As palavras,
tantas e linhas,
anteriores ao poeta
e ao poema
que este deseja fazer.
Não são suas
as palavras.
São de todos,
são do povo
e da língua que o define
e lhe confere identidade.
O problema é escolher,
apanhar
as que são certas
para dizer o que se quer
e empregar
as que se ligam
e a musicalidade surgir!
O que aí não está
é a imaginação!
E só acontece poesia
se o seu sopro der no mundo
e o mudar,
e numa reviravolta tamanha
se introduzir nas palavras
e as remexer,
as trocar,
e as preencher,
ou insuflar
com aquele outro sentido
que vem lá do fundo,
da alma,
e não das coisas do mundo.
Só acontece poesia,
se a imaginação transfigurar o que aí está,
sublimar o real,
e este perca o aspeto rude,
natural,
e se torne mais humano,
caloroso,
espiritual.
É precisa a imaginação
e as asas com que voa
para transportar o poeta
e os que leem o que ele escreve,
e os elevar
àquele reino em que todos se reconhecem,
se estimam,
se adoram
e fruem o convívio dos Deuses!
in “o tempo e as coisas”
Miguel Leitão
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