- Sol: és tão quente, mas tão
doloroso!
Tens a força da certeza, tens a
força do dia;
Essa força dolorosa, com que te
apoderas de mim
Já não te consigo olhar, tão forte
tu és, - eu tão frágil
Tão frágil que já dificilmente te
resisto
- Mas também não valia a pena
resistir-te
Mais cedo ou mais tarde eu
sucumbiria!-
A minha capacidade de resistir
chegou ao fim…
Já não consigo amar;- ou ser amada!
Já não consigo querer;- ou ser
desejada!
E tu Sol, já de tal maneira me
envolveste
Que não tenho forças para me
libertar de ti.
Oh Sol! O meu corpo relaxa-se numa
dádiva à morte
Os meus olhos que diziam ser
negros; estão pardos!
As minhas mãos sempre ansiosas na
procura; inertes
A minha boca rosada, fresca,
gritante; murchou, emudeceu!
O meu sexo de onde brotava a vida;
secou!
A minha cabeça fervilhante de
ideias; está vazia, oca!
O coração de tanto se dar, aqui,
ali; já não o tenho!
Os meus peitos onde corria o leite
da vida; secaram!
E até os filhos que pari, já não
são meus; esvoaçaram!
Oh Sol; porque me castigas assim?
Deixa-me agarrar o canto dos
pássaros, que ouço ao longe
Deixa-me agarrar o verde das
árvores; tão refrescante!
Ai! Esta luta tão dura e cruel, tão
desigual
Deixa-me responder ao chamamento da
sombra verde e fresca
- Sol cruel porque me desnudas
assim?
Sol, cruel e vencedor
Já não tenho forças para agarrar o
canto dos pássaros
Já não tenho forças para me
arrastar até ao verde
- Assim me vou aos poucos e poucos
Assim
aos bocadinhos
Aurora
Gaia
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