COLHEITA
Passeio o olhar sobre o teu corpo
liso e lindo,
que estirado sobre a areia se me
oferece
como mar prometedor.
Corpo-mar em que um mergulho se
me impõe
com necessidade de urgência
— beijos de água florida,
enlaces
de virgens algas coloridas,
brilhantes,
lumiosas,
matinais.
Entre mim e ti foi-se a distância
e
esboroaram-se os limites.
As palavras que guardara,
atropelam-se agora na garganta,
esfrangalhando-se umas às outras
por não serem necessárias.
É em silêncio que me lanço sobre
ti
e esbracejo,
e sulco esse mar convidativo,
irresistível,
que se insinua como arada fértil,
pródiga de frutos sãos,
suculentos,
já maduros.
Nada mais existe, além de nós:
apenas o marulhar longínquo das
ondas
— os seus acordes a entoar Haydn,
Brahms
ou Mahler —
apaziguando-nos o corpo e os
sentidos,
enaltecendo o momento e
dando sabor à colheita.
Inédito, Miguel Leitão
1 de agosto de 2012
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