sexta-feira, 24 de agosto de 2012

TUDO É FOI


TUDO É FOI
 
Fecho os olhos por instantes.
Abro os olhos novamente.
Neste abrir e fechar de olhos
já todo o mundo é diferente.
 
Já outro ar me rodeia;
outros lábios o respiram;
outros aléns se tingiram
de outro Sol que os incendeia.
 
Outras árvores se floriram;
outro vento as despenteia;
outras ondas invadiram
outros recantos de areia.
 
Momento, tempo esgotado,
fluidez sem transparência.
Presença, espectro da ausência,
cadáver desenterrado.
 
Combustão perene e fria.
Corpo que a arder arrefece.
Incandescência sombria.
Tudo é foi. Nada acontece. 

António Gedeão
in “Poemas Escolhidos”
lido por Maria Augusta da Silva Neves

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