Nunes Amaral
TELÚRICA VERTIGEMMergulho, subo ao fundo da loucura,
delta negro de lábios abrasados,
onde perco os meus olhos alongados
sobre as ondas felinas de água pura:
desgrenhamos a pele e a espessura
das águas com os dedos demorados:
o frémito dos corpos adunados
transborda de alegria, transfigura:
ofegantes, à sombra das estrelas,
os poros inebriam, sentinelas
do sangue amotinado, no quentume:
telúrica vertigem desvairada:
expande-se, extasia e cresce e brada
à beira de um vulcão de lava e lume.
Domingos da Mota
in Bolsa de Valores e Outros Poemas
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