Jorge Murillo Torrico
VERMELHO E PRETO
No raio de sol no calor do lume
na brasa acendida do aceso amor
perpassa às vezes um súbito frio
apesar do fervor no finíssimo gume
Apesar do horror da pretíssima noite
distingue-se às vezes por entre o negrume
um fogo vivo devorando aflito
a sua própria cor…
Esconde, esconde amor estas palavras
o amor que nos une é clandestino
porque hoje a ternura é coisa rara
e tem inimigos à esquina
Esconde, amor, o nosso amor
que é transgressor da vida das viaturas
feita de fumos e lixo deitado à rua
e a ternura não é bem vista nem aceite
Esconde amor que estás feliz amando
agora só quem mata plantas, fere rios
tem o direito de falar e circular
e esses são os donos das cidades
Por isso esconde já os nossos versos
e as mensagens de carinho que trocamos
os automóveis matam, gazeiam
escurecem o mundo onde estamos
Fernando Morais
in "O Poeta Escondido"
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