quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

DINÂMICA DOS FLUIDOS

Nunes Amaral
DINÂMICA DOS FLUIDOS

Não vês nos meus olhos desejo,
o desejo?, nos lábios a sede
de um beijo e nos braços
a fome de abraços, não vês,
tu não vês?, não vês
que nas veias o sangue incendeia?

Semeio o delírio
com os dedos urgentes:
mordisco-te os seios, os seios
inchados: sugamo-nos
as línguas de fogo
vorazes: sublevo-te a púbis
e a boca do corpo num ritmo
agudo sem véus de pudor:
o frémito cresce: respiras mais
fundo: o vigor entumece

Rebelem-se os ventos
ou tremam as casas,
vogamos na crista
das ôndulas vivas num mar
de calor, os olhos nos olhos,
as mãos desgrenhadas,
as bocas ao rubro,
soltamos gemidos
e brados e uivos, os poros
perdidos, fundentes, em brasa

Celebramos os corpos
assim desvairados
no ápice da febre,
do ardor, da explosão das águas
frementes, do fogo maduro,
com o sol tatuado na pele da paixão
Domingos da Mota
in Bolsa de Valores e Outros Poemas

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