Jozé González Collado
É do seu tempo? (I)O pregão – “Merca cadeiras e bancos!” que as mulheres lançavam no ar enquanto desciam o Bonfim carregando, à cabeça, o que apregoavam?
O castanheiro de cesto de serapilheira e alça cruzando o peito: “Quentes e boas!”?
A cigana que pedia a mão às meninas do “Rainha” para lhes ler a sina, por cinco tostões?
O polícia vermelhudo e gordo, ostensivamente abanando o cassetete, não permitindo que mais de quatro pessoas estivessem paradas no passeio público a conversar, e avisava em tom ameaçador: “Circular…Circular”?
As galinheiras, calçando apenas uma alpercata, porque o par era para repartir com uma companheira de trabalho, com o cesto de frangos à cabeça (qual mini-galinheiro ambulante), e o galo mais atrevido de patas amarradas, preso no braçado?
A Emilinha ardina que, pela madrugada, apregoava os jornais enquanto os metia nas caixas de correio: “Olha o Janeiro! Notícias! Olha o Comércio!”?
O aguadeiro de cântaro de barro ao ombro, coberto de heras: “Água fresca. Fresquinha!”?
O peixeiro, com uma vara ao ombro e uma canastra em cada ponta, apregoando, com voz rouca de maresia e nevoeiro: “Sardinha viva! Carapau do nosso mar!”?
Se calhar não é desse tempo.
A minha rua tinha mais encanto.
Continuo a guardar as imagens, os sons e os sorrisos do meu Bonfim.
Passaram-se cinquenta anos…
Maria de Loudes dos Anjos
in Nobre Povo
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