quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

CONTAGIOSA

PAULO BYRON


CONTAGIOSA

Somos todos dementes contagiosos
a furar vidas, a comer chocolate

fazemos filhos para alimentar a morte
e os quartéis, nos Invernos ociosos

rebolamo-nos na praia enregelada
para limpar o crude colado à pele

deixamos morrer os peixes e as aves
temos sono e fome e vergonha e riso

ultrapassamos os outros numa fila
para não sermos os últimos e rimo-nos

afogados em dívidas aos bancos, toda a vida,
e tememos e trememos a cera que fazemos

o pavio de vela só arde às segundas
cá em Gaia é assim, no Porto é às terças

fundas são as marcas na pele ressequida
a garrafa partida e a mesa descaída

são estes os avanços da nossa ideologia
somos todos dementes e contagiosos

nas nossas doenças, caímos aos montes
por Invernos fora e Primaveras dentro…

Fernando Morais
in "Ao Povo do Mundo"
lido por Lourdes dos Anjos

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