UM DIA NA CIDADE DAS BRUMAS
A Ribeira assenta os pés
na bruma que o céu desceu
e vai cobrindo lés a lés
a vida que se rendeu;
coisa mais linda não vejo!...
parece que a nossa terra
nasceu da troca de um beijo
do rio Douro e da Serra!
Levemente a bruma insiste
a vestir de musselina
A graça que o Porto assiste
pela hora da matina!
O cheiro a mar é intenso…
e parece, a quem vem do sul,
que o burgo fica suspenso
entre a bruma e o azul!
Logo quer o sol irradia
e a névoa se desfaz
é um grito de alegria
de fraternidade e paz!
surgem as roupas secando
pelos varais das janelas,
com o sol como espreitando
o que vai por detrás delas!
Que lindo arraial de cor
e que profusão de vida!...
Todos sacodem o torpor,
bradam peixeiras na lida:
- é da miúda, ó freguesa!...
venha ver que é fresquinha!... -
tem uma certa nobreza
a peixeira ribeirinha!...
E a névoa correu pra Foz;
esta cidade das brumas
parece andar de trenós!...
Manhãzinha usa fulgente!
E anda toda perfumada
pelo odor do pão quente
e da bela sardinha assada!
O Porto não quer prefácio
e nem precisa de um tema.
Vai-se da Sé ao Palácio
como quem faz um poema!
À tardinha, em nostalgia,
tem uma luz, um fulgor…
É que o sol quando alumia
só aqui veste essa cor!
Depois retoma o cinzento
com véu de estrelas cadentes!
No mar há um rumor de vento
embalando almas dormentes;
que as outras almas da ponte,
ficam despertas na história
e logo que o sol desponte
voltam de novo à memória!
Nenhuma outra cidade
goza de igual protecção;
guardam pela eternidade
esta invicta excepção,
que tem sotaque ao falar
e tão forte calor humano,
que nos parece afagar
quando diz: - Bom dia ó mano! –
Maria de Lourdes Martins
Maio de 2004
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