quinta-feira, 27 de outubro de 2011

MEMÓRIA DE ABRIL


MEMÓRIA DE ABRIL

Em Abril nasceram cravos
em sítios inverosímeis:
pelas íngremes calçadas,
no alcatrão das estradas
e nas longas avenidas!
Como se as próprias vidas
não nos coubessem no jeito,
lá fomos de cravo ao peito
pra saudar a liberdade!
Vermelho, cor da razão,
cada cravo um coração
e era o fim da opressão!

Cravos em sangue passando…
eram clamores intensos!
Um povo enfim libertado
dum já longo e triste fado!
Eram os mais belos hinos,
eram do povo os destinos!...
E assim, serenamente,
como se a alma ordenasse,
despertámos os sentidos.
Não fomos mais paus mandados.
Sem sangue nas mãos, só cravos…
deixamos de ser escravos.

Ganhamos a liberdade;
mas a fome, essa, voltou…
Ofuscou-nos tanto a luz
que descurámos a cruz!
Acabou-se o pé de meia
e a nossa grande epopeia
vai fenecendo no tempo…
Faltam Zecas, Adrianos,
falta a garra, falta a tropa
e abundam os burlistas,
pululam oportunistas
e torpes capitalistas!

Demos exemplos ao mundo
coa revolução dos cravos!
Povo de brandos costumes
e temperados ciúmes…
Embora de pouca sorte,
amamos pra além da morte,
como Pedro, como Inês!
Não foi conto, não foi lenda,
aconteceu na verdade;
em nós somente a loucura,
um trauma, uma amargura
nos põe a mente obscura.

Homens como Egas Moniz,
referência portuguesa,
parece ao mundo uma lenda,
arrastando a triste senda
da sua honra ultrajada,
vai de família empenhada,
ao rei de Espanha entregar-se
para pagar a promessa
á qual  o seu rei faltara.
Lusitano a corpo inteiro,
escorreito e verdadeiro,
foi meu orgulho primeiro.

Também Abril não é lenda,
é esperança, é promessa.
Estarmos aqui agora
é razão pra vida fora!
Não o deixemos morrer,
saibamos bem escolher
aqueles que nos governam,
porque o ideal de Abril
é do povo que trabalha,
é um mês que tem magia!
É o nosso eterno guia,
Abril é outro dia!

Maria de Lourdes Martins

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