terça-feira, 4 de outubro de 2011

POEMAS DE UM TEMPO INACABADO


POEMAS DE UM TEMPO INACABADO
CAPÍTULO DA LUCIDEZ

Poema do meu escritório de artigos religiosos…

Santos e Santas aos pares e às dúzias
com olhares de culpada piedade
impressos em papel de tons diversos
Estampas brilhantes e foscas
que à guilhotina vão adaptar
as formas exteriores para compor os quadros reburgueses.

Santos e Santas que sofreram dos intestinos
e da boa educação
que souberam oferecer o lado esquerdo
para a lançada dos recalcamentos e pecados

Santas e Santos que se vergastaram desnudos
e a si se maltrataram cruelmente
em nome da sua “grande” inteligência

e que deixaram de comer e de beber

privando-se de tudo (e da razão)
observados por bocados de madeira e de barro
a quem acendiam odorosas velas
murmurando baixinho, por entre lágrimas e lágrimas
as mecânicas palavras da oração

Santos e Santas que em prostrada adoração
sob a égide da caridade e da piedade
foram-se suicidando rapidamente
dormindo sobre lajes e lousas frias e húmidas
a descarregarem ferozes pancadas
nos seus corpos de chagas medonhas…

e diabos sorridentes de chifres curtos e caudas compridas
de pupila felina e braços vermelhos
lançando suas garras verdes e pretas
sobre presas fáceis
tragicamente fáceis que se lhes abandonam tibiamente
grandes olhos (delas) postos em alvo à espera
de um milagre que reduza a pó os agressores…

Fernando Morais

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