quinta-feira, 27 de outubro de 2011

O DISCURSO


O DISCURSO

Meus senhores,
Não tenho o dom da eloquência nem pretendo que me assistam de olhos voltados. Apenas gostaria que me dessem atenção. A minha gramática é parca, mas tenho a certeza que me perceberão.
Vós que carregais nos ombros o fardo ingrato de serem presidentes de grandes empresas, tendes também o fardo de terem nos ombros, o peso das mortes e o flagelo da miséria humana.
Como simples trabalhador, apenas sei manejar a enxada e colher as frutas e os legumes. Não sei manusear frases e nunca falei perante um auditório de gente importante.
Vós sóis ricos numa sociedade que preza o rico. Eu somente sou o pobre que trabalha na terra. Não tenho intenção dela sair, pois sei que ali é o meu posto.
Também não tenho o direito de vos tirar nada do que possuem. O que tenho chega para me manter vivo e atento.
Pediram-me em nomes dos outros trabalhadores que fizesse um discurso. Mas eu não sei fazer discursos, só falo o que me entende a mente.
Depois de falar sobre as nossas diferenças, só tenho algo a acrescentar:
Vós, senhores poderosos podem ser ricos. Podem ter grandes mansões e até fábricas de munições. Terão por certo os filhos e netos a estudarem em grandes colégios. Mas de uma coisa tenho a certeza. A vossa riqueza não se compara à minha pobreza. Porque eu tenho a terra e as mãos. Tenho o pão que amasso e os sonhos que são só meus. E por isso sou mais ricos que vós.
Perdoai-me senhores as minhas palavras, mas creiam que entres nós, a minha riqueza é muito maior que a vossa.
                                           Eduarda
in Blog’s “SOL”
                                    lido por Eduardo Roseira

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