- Neste país, penhora ilegal é coisa normal…
Penhorem a minha má sorte,
A vida, até à morte;
Penhorem a política,
A minha carteira raquítica,
Penhorem-me tudo,
Deixem-me até desnudo…
Penhorem a minha pobreza,
Não a Liberdade!
Penhorem a minha tristeza,
Não a Honestidade!
Penhorem o meu azar,
Não a Felicidade!
A Honra e a Palavra não me penhorem,
Para que os meus, por isso, não chorem!
Móveis velhos, trastes usados,
Terrenos de outrém, hipotecados,
Casacos gastos, a gabardine sebosa,
A fruta e a carne já rançosa,
O tacho, a sertã e a panela,
O meu cão e a sua cadela…
Penhoram-me, até, a banheira,
O bidé, a sanita cagadeira,
E a água que por ela cai
Sem que se saiba para onde vai,
Levem, também, o papel higiénico
E o pequeno penico isotérmico…
Levem tudo, de uma só vez.
- Não deixarei, jamais, de ser Português!
Manoel do Marco
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