quinta-feira, 28 de abril de 2011

RETRATO

RETRATO

Ele era da raça dos que suportam
Todo o peso da vida,
Era da raça dos que não se queixam,
Dos que sorriem diante do destino adverso.

Viveu em silêncio grandes horas amargas
E ninguém conheceu as devastações,
O efeito dos golpes que lhe foram vibrados.

As suas ruínas, os seus deuses mutilados,
Os túmulos que estavam nele
Ninguém desvendou,
Tudo ficou escondido,
Tudo ficou defendido
Pela sua máscara tranquila.

No entanto ninguém amou
Mais profundamente do que ele amou,
E ninguém terá recolhido maior melancolia
E maior incompreensão
Do amor.
Ninguém desejou mais a companhia dos seus semelhantes,
Ninguém teve mais necessidade de calor amigo,
do apoio, do aplauso, da solidariedade humana.
No entanto – sua vida se consumiu na solidão, no desamparo e na indiferença.
A amargura não fermentou na sua alma,
O ressentimento não dominou jamais a sua visão simples das coisas,
Ele era da raça dos heróis obscuros.

SCHMDT, Augusto Frederico (Bras.)
in Poesias Completas, 1956
lido por Amândio Vasconcelos

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