Nasci,
logo que comecei a andar me quiseram guiar,
logo que comecei a falar não dizia o que queriam,
logo alguém me dizia:
- “Menino, isso não se faz. Isso não se diz”
Logo que comecei a olhar para o Sol,
com olhos meus,
logo se apressaram a dizer:
- “O Sol é obra de Deus.”
Fui pela Sociedade catequizado,
nela enquadrado,
claro que para meu bem, diziam
queriam que eu fosse feliz,
mas tendo sempre em conta o:
“Isso não se faz. Isso não se diz”
Tive que ir a muita missa,
porém, depressa vi mais além,
vi que neste mundo de cobiça,
há muito de catequizado,
em forma de quadrado,
que só ama o redondo do vintém!
Tive que parecer domesticado,
parecer ser social,
até que cheguei a ser,
mas só no meu exterior,
porque, no meu interior
sou muito selvagem,
dizem até que malcriado,
que vê no mundo actual
muito homem-estupor;
muito mais animal
com tanta aprendizagem.
Nasci,
depois, que fizeram de mim?
Já com certa idade,
com o olhar já um pouco baço,
respondo:
- “ não sei quem me fez assim,
mas, agora,
finjo que sou eu que me faço!”
SILVINO FIGUEIREDO
in “Pedaços de mim”
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