Oh as casas, as casas, as casas…
as casas nascem, vivem e morrem.
Enquanto vivas, distinguem-se umas das outras
distinguem-se designadamente pelo cheiro
variam até de sala pra sala.
As casas que eu fazia em pequeno…
onde estarei eu, hoje, em pequeno?
Onde estarei aliás eu, dos versos, daqui a pouco?
Terei eu casa, onde reter tudo isto,
ou serei sempre somente esta instabilidade?
As casas, essas parecem estáveis
mas são tão frágeis, as pobres casas!
Oh as casas, as casas, as casas…
mudas testemunhas da vida
elas morrem, não só ao ser demolidas,
elas morrem com a morte das pessoas.
As casas, de fora, olham-nos pelas janelas.
Não sabem nada de casas, os construtores,
os senhorios, os procuradores.
Os ricos, vivem nos seus palácios,
mas a casa dos pobres é todo o mundo!
os pobres, sim, têm o conhecimento das casas!
os pobres, esses, conhecem tudo!
Eu amei as casas, os recantos das casas.
Visitei casas, apalpei casas.
Só as casas explicam que exista
uma palavra como intimidade!
Sem casas, não haveria ruas,
(as ruas onde passamos pelos outros,
mas passamos principalmente por nós)
Na casa nasci e, hei-de morrer.
na casa sofri, convivi, amei!
na casa atravessei as estações,
respirei – ó vida, simples problema de respiração.
Oh as casas, as casas, as casas!...
Ruy Belo
lido por Fernanda Cardoso
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