quarta-feira, 6 de julho de 2011

CIDADE VENCIDA PELA POESIA


CIDADE VENCIDA PELA POESIA

Para os que mentiram
Para os que traíram
Para os que prenderam
Para os que mataram

e era a mentira do arco-íris quatro da tarde
Gaia montes Fevereiro em pleno

E era tradição ter atravessado assim com ele
A vida de mãos dadas sempre sorrindo

e era prisão por ter acreditado na revolta toda
para os nossos filhos gritarem justiça
termos plantado o verdadeiro sentido das palavras
e era morte que não é bom nem mau
apenas é dia preto e nunca vês a luz

Para os que mentiram aos trabalhadores
Para os que traíram os operários
Para os que prenderam jovens camponeses
Para os que mataram velhos reformados

Este castigo hoje aqui e não é justiça
Porque muitos sofrem as culpas de outros
Vingança de folhas escritas com o peso de milhões
De anos de crimes contra o mundo, contra o ar!
E os poetas de todos os tempos, de épocas remotas
até este dia exigem justiça!

Nunca deixeis de escrever jovens mulheres crianças
Velhos de asilo doentes de hospital presos de cárcere
Travestis relegados a negarem a sua personalidade

     Nunca deixeis de escrever

Talvez um dia futuro vossas folhas sirvam para salvar a Terra
E sal de lágrimas e lágrimas de coragem
E lágrimas protesto e lágrimas de luta, de transformação
E vivam as lágrimas e vivam sempre (possam servir)

e que ninguém mais tenha vergonha de chorar
pelas suas profundas alegrias, amores, e vitórias

contra chefes altaneiros e seus lacaios
contra os que vivem do suor alheio
e que saibam transformar as lágrimas de tudo
nos punhos cerrados contra tudo que é infame
como as folhas de hoje que não são mudas e que no chão
ainda protestam, ainda ardem de entusiasmo
pela verdade.
E tomem essas armas, essas vozes de comando nas batalhas
do nosso quotidiano
enquanto se levanta um fresquinho, muito fino,
de esperança…
e de certeza…

Fernando Morais
in A Cidade Ocupada pela Poesia

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