cerce à vida _ cerce ao mundo 1971-2010
ó sonhos de primaveras floridas!
se eu vos tive
para onde foram
porque partiram
sabendo, eu vos desejar
alimentar a vida que aspiro?
sinto ter saltado o espaço do tempo
declinando inutilmente
anos de espera a erguer um amor
sem tatuar os sonhos desejados.
assim resta-me entregar
sem cópia nem rascunho
a vida que aspiro
às noites de luar ausente.
se um dia, a Deus, eu for chamada
a prestar contas de tudo o que aqui fiz
dir-lhe-ei: sou uma revoltada
por me dar uma vida que não quis
por ver tanto vilão abençoado
e tanto canalha protegido
por ver tanto inocente mutilado
a silenciar na alma o seu gemido
e Ele, tão distanciado,
cego, dorminhoco ou distraído,
permite que a sua criação
semeie um inferno de dor
por ambição
que me julgue então como entender
como eu tantas vezes O julguei
ser justo, misericordioso e com poder
pra descobrir, afinal, que me enganei.
painel multicor; volume I, 2004
Teresa Gonçalves
in Pleno Verbo
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