VENTO NO ROSTO
À hora em que as tardes descem,
noite aspergindo nos ares,
as coisas familiares
noutras formas acontecem.
As arestas emudecem.
Abram-se flores nos olhares.
Em perspectivas lunares
lixo e pedras resplandecem.
Silêncios, perfis de lagos,
escorrem cortinas de afagos,
malhas tecidas de engodos.
Apetece acreditar,
ter esperanças, confiar,
amar a tudo e a todos.
in Poesias Completas (1956-1967)
Colecção Poetas de Hoje de António Gedeão
lido por Emília Costa
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