terça-feira, 14 de junho de 2011

A MESMA CIDADE VISTA POR UMA CRIANÇA


A MESMA CIDADE VISTA POR UMA CRIANÇA

Sim. Era dia mas estava tudo escuro
As folhas caiam do céu sempre sempre sempre
A mãe deu-me guarda-chuva para me abrigar da poesia
Havia grande fogueira mesmo frente à casa

Sim. Era noite por causa daquilo que diziam invasão
Tenho medo da guerra, mãe… estas folhas matam?
Quem as atira? Porquê donde vêm?
Peguei numa e li realmente eram versos

Sim. Era dia e ninguém foi o trabalho
Andava tudo a correr gritar desencontrado
O pequeno almoço veio tarde e sentada nas folhas
Bebi o café com leite estava quase frio…

Minha colega da escola veio ver-me contou-me
Aquilo eram inimigos do papá tinham dito
Queriam matar não sei quem chamada democracia
Que era uma tal de Lisboa do papá conhecida

Atiravam aquilo toda a noite o dia contra nós
Por causa das reuniões do Papá e dos outros na cave
Aqueles senhores vestidos a preto que tinham pistolas
E certas coisas escondidas numa caixa fechada

É por causa disso percebes? os pobres não querem
Essa tal democracia que meu papá encontrou
E como não têm armas nem quartéis fazem assim
Cobrem tudo de folhas proibidas muito más

Fernando Morais
in A Cidade Ocupada Pela Poesia

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