sábado, 11 de junho de 2011

A MESMA CIDADE VISTA PELA POESIA


A MESMA CIDADE VISTA PELA POESIA

O que amor não consegue só outro amor o faz
Melhor fúria é aquela que nem foi apagada
Sabe bem a limão e a castanhas assadas
O gesto de coragem que muito perdoou

Convém para já derrotar hipocrisia como
Com foice afiada cortar erva daninha
Rebolar o corpo nas espigas de milho
E de bruços na terra esperar sementeira

Á volta do pescoço – e as mãos tremiam –
Coloquei-te colar das folhas da cidade
E resplandeciam ‘ té á ponta dos dedos
Como só resplandece por vezes a verdade

Nós, poesia, fomos usados para um castigo
Como foi Sodoma para um bem previsto
Independente da nossa vontade alguém exerceu
O mal e o bem cujo poder é misto.

Fernando Morais
in A Cidade Ocupada pela Poesia

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