A MINHA ESSÊNCIA
Escrevi teu nome na areia
para que as ondas o apagassem.
Teu nome foi-te nas águas…
… e tu ficaste.
Gritei teu nome à montanha
para que os ventos o arrastassem.
Teu nome sumiu na aragem…
… e tu ficaste.
Lancei teu nome às ravinas
para que o abismo o engolisse.
Teu nome caiu no vale fundo…
… e tu ficaste.
Chorei teu nome na noite
para que o escuro o sorvesse.
Teu nome desfez-se em sombras…
… e tu ficaste.
Tu ficaste… e ficas sempre,
encastrada na minha alma!
Por mais que trucide o teu nome, o esmigalhe,
o reduza a amarelecida poalha
a arrastar-se, inútil,
pelos becos da memória,
tu teimas em permanecer,
sempre cá, a fazer parte.
É uma questão de natureza,
não de nomes ou lembranças.
Não és acrescento como algo de movível,
adjacente.
Não é como timoneiro em barco
ou piloto em avião
que se ausentam se o comando
não se torna imprescindível.
Realidade constituinte do meu eu,
integras a minha vida
e o meu ser,
alimentando o que penso
e o que sinto,
o que digo e o que faço.
Eu sou tu…
… e tu sou eu!
E se conseguisse arrancar-te de mim,
eu não seria!
Pelo menos…
…não seria como sou!
Miguel Leitão
in O tempo e as coisas
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