A MUSA ESTÁ DE LUTO
Mais não direi em verso.
Vou partir.
Outra linguagem tenho que aprender.
Poluiu-se o Universo.
Quem venceu foi o Inferno.
Camões, que pensei eterno,
Acaba de morrer
Com tudo o que restava de Alcácer-Quibir…
Adeus Tejo, adeus Lisboa!
Adeus praia lusitana…
Partindo, vou à toa,
Perdidos os confins da Taprobana!
Não quero a luz estranha
Dos estranhos amigos
Que à sombra da mesma cruz
Enfrentaram inimigos
Da doutrina de Jesus,
E que agora tanto ofendem
Com as promessas que vendem!
Adeus rouxinóis e outros passarinhos…
Adeus fontes e montes maninhos!
Não vou partir…
Não vou morrer…
- O dia que há-de vir
Pior não pode ser!...
Adeus Lua…
Adeus flores…
- Agora até na rua
Se abandonam os amores…
Não soube riscar no papel
Toda a verdade
Da liberdade…
Tão falsa e cruel…
Acabou-se o meu tormento!
Não vou mais torturar o pensamento
Com rimas e medidas…
- Minhas horas são cumpridas!
E o que me resta, afinal,
Neste velho Portugal?...
- Resta-me o resto
Da Língua de Camões
E, de certa maneira,
Mesmo com muitos rasgões,
Sua ditosa bandeira!
Manoel do Marco
Sem comentários:
Enviar um comentário