terça-feira, 21 de junho de 2011

O S. JOÃO DO BONFIM

 

O S. JOÃO DO BONFIM

Da padaria Santa Clara solta-se o cheiro da regueifa quente
Doa arredores da cidade vai chegando um mar de gente
Estremunhada e coscuvilheira aparece a lua
Ao som de testos e bombos, uma rusga desce a rua
Nas janelas há enfeites de papel e balões coloridos
Ao desafio, cantam-se refrões mil vezes repetidos
-AI ORVALHEIRAS, ORVALHEIRAS, ORVALHEIRAS
E VIVA O RANCHO DAS MULHERES SOLTEIRAS.
-AI ORVALHADAS, ORVALHADAS, ORVALHADAS,
E VIVA A RUSGA DAS MULHERES CASADAS.

No céu do Porto o nevoeiro adensa-se e esfria
E obriga a rodopiar até ao nascer do dia
No rosto há o gosto acre do alho porro e da erva cidreira
A cidade cheira a sardinha assada que pinga na broa caseira
Na madrugada, espevita-se o carvão para o caldo verde quentinho
Depois, ateia-se o fogo com malgas de barro donde esborda o vinho.
Enchem-se as ruas de foliona multidão
ONDE TODOS SÃO POVO. SEM TÍTULOS OU BRAZÃO
Nos bairros há bailaricos e mexericos
E até a atrevida viúva com o "home" ainda quente
Dá "duas voltas do vira" com o vizinho da frente

Ao romper do dia,em cada canto, há arrolados
Há beijos e juras de namorados. E nove meses passados,
Há a cinza das fogueiras apanhada aos braçados
E a orvalhada da tripeira noite sanjoanina,
Para umas trouxe um moço, para outras, uma menina!


in NOBRE POVO
EDIÇÕES GAILIVRO
LOURDES DOS ANJOS

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